quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Clã Lasombra

* By Morpheus Bnr *
            
           Janice caminhou pelo pequeno palacete instalado no bairro de La Víbora, o coração fervilhante da cidade de Havana. Da janela, o início da noite trazia a brisa suave do mar, magnético e sedutor para Janice e para todo o Clã da Noite - o chamado de despertar da imortalidade. Seu bando provavelmente ainda jazia dormindo no porão e ela, todas as noites, pensava em deixá-los por um momento e ir molhar os pés na praia, como fizera todos os anos até que o sol deixou de existir. Ainda assim, como líder do grupo, era impossível. Enquanto desfilava com a nua carne fria pelo quarto no topo do palacete, pequenos remendos de sombra se formaram para vesti-la e prepará-la para o início da noite. Abaixo, o ruído de despertar do bando começava com algumas risadas e uma algazarra num "crescendo" quase barroco. Ainda assim, era bom que estivessem animados, pois o início da noite traria ainda algumas dificuldades.

            Os LaSombra são os líderes do Sabá e carregam em si uma herança forte de seu progenitor: O poder de controlar as sombras e uma atração magnética e nostálgica pelo mar. Além disso, desde sempre, o Clã da Sombra ou da Noite, como já foi conhecido, traz em si o poder de controlar nações, tendências, poderes dos homens e dos vampiros e consideram essa liderança como um direito de nascença, ao invés de um fardo ou de uma missão. Para os LaSombra o poder não é um meio para um fim, ou um fim em si mesmo - é um mero exercício de excelência.

             No andar de baixo, olhou para seus companheiros, dispostos e preparados. Ela sorria com uma excitação quase lasciva antes de colocar todo o bando em duas caminhonetes e seguir para o Mira Guardia. O club pertencia a um grupo de executivos ligados aos Ventrue e Toreador, um dos poucos, dada a influência dos Brujah de Cuba desde a ascensão de Castro. A Camarilla estava alojada profundamente em Cuba, mas pequenos rearranjos poderiam ser feitos - e era a razão de ela estar ali. Na entrada, o carniçal olhava desconfiado, como que pressentindo algo mais profundo, mas a aparência de Janice e a subseqüente ordem de "aproveite a noite e nos deixe passar" foi suficiente, pois carniçais ou não, o olhar de Janice comandava obediência imediata. O abrir das portas do club revelou uma harmonia entre ilegalidade para todos os gostos e vícios para toda ilegalidade correlata. Janice não se importava de estar ali - e já estivera em lugares infinitamente piores - mas o lugar carregava a típica marca de celeiro financeiro para a Camarilla.

           Novamente, Os LaSombra são preocupados principalmente com duas coisas - sua eficiência e sua nobreza. Uma coisa não pode sobrepor a outra e nem faltar como elemento essencial da equação. Se há nobreza sem eficiência, você possui um Tzimisce. Se há eficiência sem nobreza, você possui um Ventrue, e embora os LaSombra os considerem como membros valorosos - um na coliderança do Sabá e outro na liderança da Camarilla - entre os Guardiões não há espaço para a ineficiência ou para a indignidade. A noção de dignidade de um vampiro, entretanto, é muito diferente da de um mortal, e a de um LaSombra é igualmente diferente da de um vampiro comum. Extorsão, chantagem, ameaça, assassinato - um LaSombra deve ser eficiente e mais freqüentemente do que não, os LaSombra são escolhidos a partir de perfis extremamente predatórios e violentos, capazes de sacrificar para atingir seus objetivos. A dignidade de um LaSombra está não em se portar de acordo com o que espera-se dele, mas em se portar como o melhor predador noturno existente em uma sociedade constituída por eles, e em ser comandande par excellence da parte mais brutal dessa sociedade. Ser um monstro elegante é difícil, mas recompensador.

            Com um gesto, Janice dispersou seu bando em duas partes que desapareceram animadamente dentro do Mira Guardia, com suas prostitutas e dançarinas. A primeira tomaria conta do acidente e dos fogos para a noite de aniversário do Bando enquanto a segunda faria os indivíduos certos desaparecessem para que outras pessoas - igualmente certas - pudessem aparecer. Aparentemente, a única maneira de mover os ânimos da Camarilla de Havana era fazer os servos úteis desaparecerem. Janice, ela mesma, tinha uma missão própria. Indo para a pista de dança, concentrou-se em sua melhor pose humana e começou a dançar. Havia um par de olhos essencial para que tudo desse certo que - ela sabia - iria pairar sobre seus movimentos cedo ou tarde. O vibrar do botão do fecho do vestido avisava que Travis, o Nosferatu, já havia terminado com a dinamite. Ela estava prestes a deixar o salão de dança e seu par de até então quando um dos funcionários, interrompendo a dança, pediu que ela aceitasse o convite de um cavalheiro desconhecido.

- "Desconhecido"?
- "Perdões, señorita. O cavalheiro insistiu para que fosse surpresa".
- "Leve-me até ele".

           Janice sorriu a aceitou a mão do jovem negro e despedir-se de seu par. O cavalheiro desconhecido era quem ela esperava, e não era desconhecido. Janice sabia que Carlos, membro do conselho de Castro, estaria no club e que ele tinha por ela um interesse que ela já nutrira por mais de uma ocasião, e também sabia que ele estaria observando os convidados. O poder é afrodisíaco, dizem, e ele provavelmente seria ousado com a sua recente elevação.
No andar de cima, Carlos a aguardava com um charuto aceso e dois pequenos cálices de um rum licoroso e aromático, sobretudo aos sentidos de um vampiro.

            Os LaSombra não são apenas responsáveis por guiar o Sabá em seus afazeres. Numa seita composta por membros que caminham num equilíbrio tênue com a besta, os LaSombra precisam manter as relações com a sociedade mortal tão saudáveis quanto possível, mas, novamente, sem perder a elegância de quem preda esses mortais. Os poucos LaSombra que ainda seguem a Trilha da Humanidade o fazem em favor dessas relações, mas mesmo os que não seguem tratam a questão com algum critério.

             Após uma conversa recheada de indiretas e promessas vãs, Carlos e Janice estavam seminus e agarravam-se mutuamente e com ferocidade. Para Carlos, a vitória sobre uma socialite estrangeira que se dava ares de demasiada importância. Para Janice, a chance de causar o primeiro dano real aos Brujah enquanto culpava os Ventrue e Toreador, porque ocorreria em seu clube e numa época de grande tensão. O irmão mais novo de Castro havia recrutado conselheiros que ainda não estavam completamente a serviço dos poderes vigentes e a guerra pela influência ainda estava nos primeiros movimentos. A Camarilla local havia se habituado à falta de concorrência externa e tinha se tornado lassa em sua vigilância. Pior para eles, que se devorariam atrás de culpados.

            Sentada na larga mesa de escritório de mogno esculpido, Janice tinha o conselheiro à sua frente, e assim que Carlos finalmente venceu as que ele considerou serem suas últimas resistências, ela o enlaçou com suas grossas pernas e, abraçando-o, começou a rir como quem ri de uma piada.
Carlos prosseguiu achando que era uma esquisitice de sua consorte, ou drogas, talvez. Mas não demorou até que seu orgulho o fizesse redobrar esforços e finalmente desistir, saindo dali; Ou tentando sair, pelo menos. Não exatamente sóbrio e com o brio ferido, Carlos colocou as mãos morenas sobre os ombros de Janice e a empurrou, mas se deteve ao olhar para o largo espelho emoldurado atrás de sua escrivaninha, e atrás de Janice, onde ele contemplava apenas a sua nudez e sua recém-adquirida falta de rigidez.

- “Carlos”?

           Seus olhos se voltaram para Janice, e então sua carne morena tremeu em contato com o pálido caucasiano firme das coxas que lhe prendiam, enquanto os olhos cheios de malícia eram emoldurados por uma sombra, como fumaça, saindo das órbitas de Janice e misturando-se aos seus cabelos negros que já não tinham começo ou fim, balançando com uma vida própria e ameaçadora, enquanto ela o olhava no fundo dos olhos. Ele reuniu o ar para dizer algo, que provavelmente era para gritar maldições ou por socorro, ou ordenar qualquer coisa se valendo de sua autoridade masculina, mas lhe serviu apenas como último alento - enquanto Janice apertou as pernas já ao redor do conselheiro com a força de uma máquina, trazendo-o de volta aos seus braços. Tomando-o rapidamente de novo num abraço, ela apertou também os braços e o corpo contra Carlos, e à medida que a força aumentava, os estalos dos ossos partindo e rangendo internamente em movimentos erráticos e não naturais aumentavam com ela.
             Carlos, em choque pela dor e pela falta do oxigênio em seus pulmões quase em colapso apenas dava arrancos espasmódicos enquanto Janice ainda parecia abraçá-lo ternamente, aparentemente sem esforço, chamando o vigor de sua potência aos músculos e empregando a eles a resiliência de um motor a explosão. Ao seu ouvido, Janice sussurrou:
"Le malheur entre en courant et sort en boitant, mon chér".
Ainda naquela noite, na praia, Janice estava com seu bando. Do teto de uma caminhonete, seu sacerdote Nosferatu olhava o club atentamente com um binóculo e um despertador velho nas mãos. Uma das caminhonetes - vazia, estava em chamas e lançava um brilho tremeluzente ao píer mais afastado do porto. A outra tinha a carroceria cheia de pessoas a interrogar, informações a colher e relatar e muito, muito trabalho para as próximas noites.
- 5, 4, 3, 2, 1 ...
             A nuvem de fogo foi lançada acima e o cheiro de sangue e carne carbonizada pode ser sentido mesmo a 10 blocos de distância. Os membros do bando de Janice comemoraram toda a noite, dançando ao redor do carro em chamas e tripudiando a morte final enquanto o Nosferatu cantava suas litanias. Janice se juntou a eles e dançou descalça por alguns minutos. Por fim, despiu-se e lançou-se no mar escuro e deixo-se afundar, até que toda a luz e ruído sumissem, e tudo, fosse o balanço gentil e palpável da escuridão.

            Os LaSombra praticam a Tenebrosidade, a Dominação e a Potência como poderes de afinidade do Clã, o que lhes dá aspectos místicos, incisivos e práticos, tornando-os versáteis e largamente temidos. A arma mais poderosa de um LaSombra, no fim de tudo, não são suas disciplinas ou sua capacidade de comando, e sim o Medo. Um adversário com medo enfrenta o oponente e a si mesmo, e os LaSombra são a encarnação de um dos medos mais primitivos dos homens – e de muitos vampiros.
            Os mortais ririam se soubessem de vampiros que temem a escuridão, mas eles também não sabem o que realmente está lá. Ser um LaSombra é um grande desafio, e jogar com um personagem LaSombra é um grande desafio também – mas atrás de todo grande desafio há um grande prêmio. Ouse dar o próximo passo no que significa ser um vampiro em “Vampiro a Máscara”, e você nunca mais verá a escuridão exterior ou interior com os mesmos olhos.

2 comentários:

Luk disse...

Mt bom o conto!

Parabéns ao Bnr Morpheus

Anônimo disse...

otimo adoro
senhores mercadores da morte
minha saldação

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