O semblante perdido
É de conhecimento amplo que os cainitas Lasombra não podem
ver seus próprios reflexos no espelho. Algumas histórias contam que o clã foi
assim punido por Caim por causa de alguma transgressão desconhecida, outros
alegam que o Demônio tomou-lhes o reflexo quando ousaram invocar trevas ainda maiores
do que a sua própria (Esta última explicação embora popular, é considerada tecnicamente
como heresia e aborrecerá imensamente qualquer Lasombra com inclinações
religiosas que a ouvir). As teorias são inúmeras, mas não há explicação que
seja adequada aos fatos.
A despeito da causa, nenhuma Lasombra possui reflexo. Uma
vez abraçado, a face de um lasombra não pode ser vista num espelho, na
superfície da água, de mercúrio ou outra superfície reflexiva. Como resultado, alguns
outros cainitas colocaram espelhos em lugares estratégicos em refúgios e
palácios, de modo a identificarem quaisquer Magistrados presentes. Entretanto,
os Magistrados também usam este subterfúgio de forma vantajosa.
Sem os benefícios do reflexo, os Lasombra tendem a se
tornarem obsessivos sobre sua aparência. Muitos mantêm servos e carniçais cuja
única função é vestí-los , arrumá-los e repetidamente dizerem o quão supremos
eles aparentam. A posição de carniçal para um Lasombra é uma que requer muita discrição,
uma vez que o carniçal é quase o companheiro mais constante do Magistrado. Uns
poucos Magistrados, talvez excessivamente preocupados com minúcias de suas
imagens, pagam a vampiros Tzimisces somas exorbitantes para alterarem as características
de seus carniçais para espelharem as suas próprias. O carniçal então se torna
uma cópia do vampiro, que caminha e fala, causando incômodo e inquietude num
grau perturbador.
Até o mais sensato Lasombra, entretanto, deseja ver sua própria
imagem, e a maioria posa para pelo menos um quadro por ano. Esta prática é mais
comum entre Magistrados entre 1 e 3 séculos de idade, que frequentemente
preenchem galerias inteiras com quadros de sua própria imagem Mais de um
visitante expressou a sensação enervante de corredores preenchidos inteiramente
com variações da mesma face.
Obviamente, o sofrimento sucederá qualquer pintor mortal
tolo o suficiente para produzir uma pintura de um jovem Magistrado que seja
menos do que bajuladora. Embora muitos dos membros anciões mais pragmáticos do
clã apreciem uma representação exata de sua aparência, por outro lado os mais
jovens que ainda estão se adequando a perda de seu reflexo frequentemente
possuem memórias idealizadas de sua real aparência. Quando uma pintura falha em
expressar suas expectativas, estes jovens Magistrados podem se aborrecer – com consequências
desastrosas para o artista.
Lasombras islâmicos escrupulosamente evitam este tipo de
representação, bem como a maioria das artes representativas.
ESPELHOS
Os Lasombra, obviamente, não podem ser vistos em espelhos.
Por outros lado isso possibilita aos Magistrados arranjos defensivos únicos em
seus refúgios. Qualquer Lasombra tem 50% de probabilidade de positivamente cobrir
seu refúgio com vidro prateado, com o pórtico frontal parecendo um plausível corredor
de espelhos.
A vantagem deste arranjo é meramente estratégica. Embora o
lorde Lasombra da propriedade não tenha reflexo, o mesmo não pode ser dito de
seus visitantes – amigáveis ou não. Na verdade muitos Lasombra farão este
arranjo de espelhos para ter linhas de visão de reflexos por todo o seu
refúgio. Um intruso, portanto, terá todas suas ações observadas no instante que
entrar pela porta até que o mestre da casa decida como se livrar dele.
Obviamente esta consideração tática tem sido mal
compreendida pelos membros de outros clãs. Ao invés de refletirem na razão pela
qual os Lasombra, sem reflexo, insistem em enfeitar suas casas com espelhos, os
membros de outros clãs apenas resmungam sobre a vaidade e inapropriada idolatria
Lasombra. Este mal entendido serve aos propósitos do clã, mesmo que cause
maledicência sobre sua reputação, uma troca que os orgulhosos magistrados
aceitarão sem considerar como ofensa de sangue – por enquanto.
Libelus Sanguinis I – págs 19 e 20
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